por JoÃo Cravo Castela InvestigaDor no CITAD - Centro de InvestigaÇÃo do TerritÓrio, Arquitectura e Design Professor . Membro do f2.8 Colectivo de Fotografia Nov 2014
Em Novembro de 2002, José Marafona publica no site fotográfico 1000imagens.com. um artigo intitulado "Conceptualismo na Arte Fotográfica". Foi este o meu primeiro contacto com esta vertente da fotografia, que imediatamente me motivou um grande interesse, que aliás aumentou à medida que fui "descobrindo" o trabalho daquele fotógrafo. " (...) a realidade pretendida pode ser (re)criada induzindo com isso um conceito, ou criando um conceito usando uma realidade existente." [Marafona,2002] Do interesse intelectual, a pouco e pouco. passei a um estado de deslumbramento. O conceptualismo fotográfico era um caminho que se me afigurava como exemplar na procura de uma expressividade que a fotografia mais clássica pode negar. "O conceptualismo aplicado à fotografia é uma "ferramenta" que pode ser ajustada por forma a criar fronteiras ténues entre estados mentais próximos do surrealismo, mas separados logicamente por uma pequena dose de razão." [Marafona,2002]. Comecei então a brincar com a manipulação digital de fotografias. como forma de experimentar caminhos. Não me sentia, nem técnica nem esteticamente preparado para criar fotografia conceptual. Havia, e ainda há, o pudor do aprendiz perante a obra do mestre (que me perdoe o José). Até que um dia arranjei coragem e inseri no 1000imagens, uma fotografia que incluí no tema fotografia conceptual. E foram alguns comentários positivos de companheiros e do próprio José Marafona, que me levaram a continuar. 0 que me atrai neste caminho fotográfico, é a possibilidade de criar (mais do que fotografar) através da fotografia. Criar um conceito a partir de ícones vários e distintos, recriar uma realidade, um cosmos próprio, normalmente onirico, sem qualquer preocupação de contar uma história, mas dando pistas para que a história exista. Entre o criador e o observador estabelece-se um laço, um laço entre o sonho e a realidade. Não há aqui (embora possa resvalar para) surrealismo. O surrealismo resulta de automatismos psicológicos, o conceptualismo joga com a razão, implica uma concordância icónica com a realidade. 0 surrealismo trabalha com o inconsciente, o conceptualismo cria consciência. Estabeleci a minha referência à obra de José Marafona, embora os meus trabalhos estejam longe da sua criação depurada e da sua qualidade de imagem, da mesma maneira que este autor refere a obra de Manuel A. E. Sousa, já falecido, seu compagnon de route, fotógrafo dos primórdios do conceptualismo português dos anos 70 do pretérito século. Do pouco que dele conheço, reforço o que diz Marafona "infelizmente Manuel Sousa está esquecido na história da fotografia portuguesa". A fotografia conceptual tem hoje uma ferramenta que Manuel Sousa não dispunha no seu tempo, os editores de imagem. Mais fácil se toma o trabalho, que naquela altura bem complicado devia ser. Mas é precisamente esta vantagem que provoca alguma relativamente à fotografia conceptual. Muita gente, arvorada em purista, tal Castilho contra Antero, zurze neste tipo de trabalho, forte e feio. Felizmente que já se vão vendo alguns fotógrafos a experimentar, a fazer e a incluir os seus trabalhos nesta categoria. Em 2002 dizia Marafona "(..) uma viagem através dos meus medos, alegrias, frustações e ansiedades, apoiando-me aqui e acolá nas minhas contradições, aguardando forças para continuar num caminho que não tem referências de destino ou companheiros de viagem" Afinal José, a sua viagem serviu para desbravar terreno!
João Castela Cravo
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